quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Can't You Hear Me Knocking

Primeiro vem o trabalho. O líquido: o impulso. Depois vem a tacada. Quando você sente vontade de voltar vem o pedido. Clamam por seu nome e isso te transforma em um deus pagão. Você vai. Vai, vai, vai, mas nunca chega. É o momento da primeira expiração. Dizem-te, “Passa o dedo. Seco cara. Seca o dedo. Olha como dissolve.”. E a escama de peixe está em sua mão. Tudo aquilo que o dicionário chama de “claro” esfarela na sua mão como manteiga. Ainda não existe o deus, só existe a falsa presença. E você espira com força pelo canal. E você acorda. Outro. Mundo. Deus. Tudo é você. Sede. Fome. Some tudo e somente você importa. A família, as leis, a morte bate a sua porta. Você está ligeiro. Suspenso em sua era de ouro. Foge. Corre. Busca quem tu queres. Mostra quem tu és. A dopamina não mais age. A noradrenalina corre parca. Agora você é o deus branco. Curto e morto como um tiro sem alvo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Patota do Cosme.

A sexta-feira é o dia mais surpreendente da semana. Não importa o que (ou quanto) você planeja, o 5º dia da semana é cavalo selvagem. Eu não passei incenso, não comi o caruru de São Cosme e Damião, nem precisava. Sexta que vira 27 de setembro é sorte certa. As energias dos santos meninos se juntam com a de Oxalufã e cauabanga! de um jeito ou outro tudo dá certo. Eu sai com Cauê, fomos ao bodega da Roseira (o meu mais novo bar-residêcia), encontramos Gil Guajeru passando perdido na frente do bar. Guajeru, Cauê e eu significamos para o dono do bar uma noite em claro, mal paga e sem os benditos 10%. E adentramos a noite sem dó nem piedade, hora o tema da conversa são as nossas pretinhas, hora é sobre candangas japonesas heartbreakers. Quase nada de futebol. Muito sobre quadrinhos. Alguns palitinhos quebrados nas mãos, outros na cerveja e quase quebro o nariz do carioca por causa disso. E vem a pausa. Fomos para o Festival de Música da Bahia, sem ingressos na mão o jeito foi improvisar, afinal somos jornalistas. Entramos pela porta lateral. Assistimos o fim do concerto de Xangai, foda, não me contive e disse a palavra mágica: vamos conversar com o cara! Descobrimos por onde entrar no camarim após a apresentação, já havia certa fila para entrar na sala, mas encontramos o nosso amigo fotógrafo Sabiá. Entramos vírgula, o baixinho carioca perdeu o bonde tentando ficar com uma guria (isto, aliás, é a melhor história da noite, mas cabe a ele contar). No camarim tiramos fotos e conversamos um pouco com Xangai. Gil ficou produzindo uma caricatura do cara. Eu saí. Conversei com um casal que é amigo de Xangai desde a infância. Acho que o vírus do jornalismo borbulhou em minhas veias, em poucos minutos em uma conversa informal, descobri o porquê do apelido Xangai, onde ele começou a tocar, que ele jogava bola e ainda fui convidado para tomar umas geladas, mas tive a fineza de recusar. Afinal se eu tivesse ido ia ser só um cara atrapalhando uma conversa de amigos. Voltamos para o bar. Um otário sentou na nossa mesa sem ser convidado e disse que Gil estava fudido por ter feito um trabalho para um candidato a prefeito aqui. “... se ele não ganhar cê ta mais lascado que bacalhau...”. Conheço Guajeru há um tempo, sei que comentários desse nível acabam com a noite do cara. Parti para uma discussão, Gil encarou também, o jeito foi o cara sair no sapatinho. Depois Gil iria me contar que ele está conseguindo pagar o aluguel só com fazendo caricatura. Porra, o cara já colaborou até com a revista Caros Amigos, tem um futuro do cacete, foda-se o trabalhinho que ele fez e essa idéia rural de política. Cauê foi embora alegando cansaço. Gil não se cansa nunca. Como estávamos sozinhos um velho com cara de alemão bêbado, e bêbado estava, nos abordou perguntando se éramos gays. Puta merda! “Não! Tô fudido mesmo! Fica no teu canto ai veio que é melhor pra tu!”. Cheguei a pensar “tão afim de fuder com minha noite agora?”. O velho, que na certa estava afim de uma experiência diferente antes de dormir, foi embora. Pouco tempo depois uma amiga nossa sentou-se à mesa, depois um amigo e outro. Pessoas legais iam abrilhantar a noite, mas estavam há bastante tempo já no bar e não vieram falar com a gente antes. Com meu bom humor característico perguntei: “vem cá. Nós não somos bonitos. Não pagamos cerveja a toa. Vocês estavam o tempo todo lá, vieram pra cá por quê?”. A resposta veio sem jeito. “tem um cara muito prosa ruim lá; é homo fóbico; pensa que sabe tudo...”. Fui percebendo que o êxodo foi aumentando. Senti-me como Moisés e abriguei todos ao redor da última Skol do bar. E daí foram prosas e mais prosas sobre tudo, até sobre Gonzo. Alberto me deu um texto que ainda não li, mas ele disse que o Gonzo o influencia muito. E a noite seguiu e amanheceu e já era 27.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Muito Barulho Por Nada

Essa semana passou muito rápido, não me pergunte por quê. Pensei em escrever um texto sobre releases de livros. Eu comprei dois livros essa semana e os releases me fizeram pensar em uma coisa que ainda vou devanear aqui com vocês.
Estou fazendo fisioterapia (lesionei um ligamento do pé esquerdo há algumas semana atrás e, por desleixo, só comecei a fisioterapia nesta terça-feira) , lendo uns textos muito loucos no http://deldebbio.wordpress.com e lutando contra o frio conquistense.
Bem, é isso. Para finalizar vou postar um texto foda do meu irmãozinho Cauê Marques. Apreciem. Até nestante.

Um ensaio sobre a estupidez
Três da manhã. Pela sala, uma infinidade de fitas de videogame se confundem com controles analógicos, caixas de pizza e game boys portáteis. Restam, para todo aquele grupo de nerds insones, já cansados de zerar pela milésima vez os mesmos jogos, duas alternativas. Ou assume-se que a monotonia já está penetrando o ambiente, que dezenove anos já não é mais idade para ficar brincando uma madrugada inteira de dar tiros e espadadas virtuais uns nos outros, que aquelas piadas sem graça já ultrapassaram completamente o número de vezes que uma piada sem graça pode prudentemente ser repetida, e que é hora de dormir, acordar cedo e ir para casa no dia seguinte decidido a tornar-se homem de verdade, arranjar um emprego sério e nunca mais encontrar esses imbecis que não fazem nada a não ser repetir seus feitos antigos em um jogo de Pokémon que ninguém lembra mais, ou parte-se para a segunda opção: discutir sobre quadrinhos.Como é de conhecimento geral que amanhã cedo ninguém vai ter disposição nenhuma para tornar-se um homem de verdade, arranjar um emprego sério, e nunca mais encontrar esses imbecis que não fazem nada a não ser repetir seus feitos antigos em um jogo de Pokémon que ninguém lembra mais, porque todo mundo vai estar com o bucho cheio de pizza para ser digerida, um dos patéticos seres faz o primeiro comentário:- Vocês viram que o Capitão América vai morrer?Para quem não entende nada de quadrinhos, cabe aqui a explicação do que se quer dizer com essa frase. Sabe quando alguém na mesa de um bar inicia uma discussão sobre as CPIs que estão acontecendo, os aviões que não estão decolando e os ministros que estão pouco se lixando com o que está acontecendo, porque quer, com isso, adentrar em um severo debate em que a unanimidade dos presentes é de que o governo é uma merda, o presidente é um imbecil e que foi um erro votar nele? É algo assim que se pretende ao comentar a morte de um personagem de quadrinhos. A partir daí, todos vão xingar os interesses comerciais das editoras, dizer que os roteiristas são uns imbecis e que é um erro continuar comprando esses caça-níqueis que as revistas se tornaram. E, assim como na próxima eleição aqueles que estavam no bar não vão ter dúvidas em votar novamente no presidente atual, no próximo dia esses que estão na minha casa não vão ter dúvidas em comprar as revistas novas que chegaram na banca. Continuemos com o ritual:- O Joe Quesada é um imbecil. Como é que o cara promete que enquanto ele for editor-chefe da Marvel, ninguém ressuscitava e já ressuscitou uma porrada de gente? Só nos X-Men, metade já voltou do túmulo: Magneto, Psylocke, Colossus... como é que ressuscitam o Colossus, aquilo é que foi morte bonita! Agora já vai matar o Capitão América, pra aumentar a tiragem da revista, e em dois meses, vai ressuscitar o cara, só pra aumentar a tiragem da revista de novo. E vai ter palhaço pra comprar quando o cara morrer e quando o cara voltar a viver. Quer apostar?- Você não vai comprar não?- Sou retardado de dar dinheiro pra esses caras?Não acredite. Ele vai comprar. Todos nós vamos comprar. Por que? Porque a morte de um personagem-chave da Marvel dá fôlego para a continuidade dos quadrinhos, revitalizando todas as outras revistas que vão ser, de alguma forma, afetadas por essa morte. A revista dos Vingadores, por exemplo, que vão perder seu líder. E a revista de todos os integrantes dos Vingadores, que vão sentir tristemente a morte de um dos companheiros, como as do Homem-Aranha e do Wolverine. Mas há um outro motivo, bem mais eloqüente: somos todos retardados de dar dinheiro para esses caras.- Se fosse para matar, que matasse para sempre. O cara tá vivo desde a Segunda Guerra Mundial, merece descansar em paz. Toda hora tiram ele do túmulo. E a morte podia ser bem impactante, tipo se um dos mocinhos matasse ele sem querer na Guerra Civil. O Homem de Ferro, sei lá.- E desde quando o Homem de Ferro bate no Capitão América, rapaz? Ele ia sair em pedaços numa luta dessa. Não matava o Capitão nunca.- Não matava? Aí, você pirou. O cacete que não matava. A tecnologia da armadura do Homem de Ferro mete porrada no Hércules, quanto mais no Capitão América, que só tem aquele escudo de adamantium.Essa já é a segunda etapa da discussão. É quase como se em um fim de noite, os carinhas que eu citei lá em cima, os do bar, desistissem da política e fossem falar de futebol ou mulheres. E o Palmeiras é melhor que o Vasco, e a Silvinha é melhor que a Paula, e se eu fosse aquele goleiro, e se eu pegasse aquela mulher... a discussão só vai ter fim quando todos perceberem que já se pediram umas cinco saideiras e que todas as mulheres citadas são areia demais pro caminhãozinho deles, e que eles estão muito barrigudos pra serem goleiros até de time da quinta divisão. No nosso caso, a discussão acaba depois que, de herói pra herói, chega-se no Super Homem, já da outra editora, e há quase consenso de que esse é imbatível. Mas sempre há umas tentativas frustradas de vitória:- O Apocalypse.- “Apocalipse” da Marvel, “Apocalypse” da DC, ou o “Apocalipto”?- O da DC, com “y”. Aquele ganha.- Como é que ganha, rapaz, se os atributos dele são todos menores que o do Super Homem? Tá lá na Enciclopédia da DC.- Mas a Enciclopédia da DC que tu tem é do ano passado. O Apocalypse andou dando uma graduada nos poderes, a desse ano vai ser diferente.- Então espera a desse ano chegar que a gente discute.- O Super-Homem da Terra 2.- É Super-Homem do mesmo jeito. O que você quer dizer com isso é que só o Super-Homem vence do Super-Homem. Se for assim, venci a discussão, o Super-Homem é imbatível, ganhei.- O Thor. O cara é um deus, porra.- Deus ou não, perdeu naquele embate clássico Marvel versus DC de 1984.- Tu não era nem nascido...- Mas li na biografia do Thor.- O Thor com cryptonita.- Ah, não apela. Primeiro, que o Thor é da Marvel, e não tem cryptonita na Marvel. Segundo, que a gente combinou que não valia essa porra de “não-sei-quem-com-cryptonita”, que é esculhambação.- Primeiro, se o Thor enfrentou o Super-Homem nessa tal batalha de 1984, poderia ter roubado alguma cryptonita do cinto de utilidades do Batman. O Thor é tão veloz que o Batman nem veria. Segundo, se é pra impor limitações, beleza. O Flash ganha do Super-Homem na corrida.- Essa tu viu em Lost. Vai ficar roubando afirmação de seriado agora, é? E se o Thor roubou cryptonita do Batman, por que não usou já naquela batalha e venceu?- Porque ele é um deus, quis ser misericordioso.- E misericórdia é apanhar até perder o martelo e voltar de olho roxo pra casa?- Como é que eu vou entender os desígnios divinos?- Ah, inventa outra.E eles inventam outra, e mais outra e mais outra. Quando decido ir para cama e sair da sala, já estão citando o Bizarro, um anti-herói que é o exato oposto do Super-Homem. A argumentação é clara: o Bizarro é muito burro pra ganhar uma batalha. A contra-argumentação é, no mínimo, apelativa:- Na queda de braço ele ganha!Fecho a porta do quarto cansado. Cansei dessas disputas inúteis. Ganha quem for mais rentável pra editora, como é que ninguém sabe disso? Amanhã acabou: vou arranjar um emprego. Se me perguntarem o que eu sei fazer da vida, vou ter que pensar o que dizer. A minha maior conquista até hoje foi zerar todos os Pokémon de Game Boy já lançados, com todos os Pokémon capturados. Cinco vezes cada um. Mas ninguém mais lembra de Pokémon. Droga! Talvez até funcione em uma loja de videogames. É isso, vou procurar em uma loja de videogames. É um senhor currículo ter zerado tantas vezes tantos Pokémon diferentes. Amanhã bem cedo vou procurar uma. Agora não, vou tentar dormir.De repente, uma súbita inspiração vem à cabeça. Perco o sono e o cansaço de imediato, e levanto da cama aos pulos. Corro para a sala, inebriado com a sensação de ter descoberto o maior dos segredos:- O Goku, de Dragonball Z. O cara bate o Super-Homem de longe!E lá vamos nós de novo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Admirável mundo novo.

Pois bem. Acho que isso é o início de tudo, não é? Aposentei meu velho fotolog porque achava um saco ter que colocar uma foto para ilustrar o texto. Mas pouco antes de desistir definitivamente dele acho que percebi que não escrevo mais. Estou enferrujado como um navio cargueiro chinês. Aliás, sou a ferrugem em pessoa agora. Quero ressuscitar minha prosa (se é que um dia já tive) e atear gasolina na minha poesia e gritar queima!queima! o único fim lógico da poesia é o desentendimento e por fim o caos. Já to começando a sentir uma estática diferente no meu corpo. Escrever me excita. E neste dia de merda, literalmente cinza, frio e entediante, isso já é lucro. Tava pensando, ao invés de só ficar contando meus dias, vou começar a postar crítica de tudo que eu ver. Utilizar esse dom de criticar até cachorro cagando para uma coisa útil. CDs, peças, filmes, livros, quadrinhos, a vida dos outros, etc. vou escrever sobre qualquer coisa. Ok. Já juntei as ferramentas e lustrei minhas botas. Até nestante.